domingo, 20 de setembro de 2009

ESTRESS






Raimundo Nonato dirigia uma das unidades pertencentes a uma empresa de transporte urbano de Belém que fazem o percorrido entre o Vero-Pesso e Ananindeua. Três anos de uma intensa, esmagadora rotina e esgota-doura responsabilidade. Devendo suportar a pressão dos horários, as sua própria mulher, passageiros, o trânsito cada dia mais denso e pesado, as regulamentações municipais, os confrontos com os colegas e, no caso dele, a situações criadas dentro do seu lar pelo matrimonio de uma pouco mais de dois anos de contraído.

Três filhos pequenos, doenças, escola, alimentação, vestimentas, aluguel e uma jovem mulher que, longe de compreender esta situação, exigia cada dia mais criando despesas que parecia extraídas da galera de um mágico diabólico, destrutor.

As horas extras realizadas com a intenção de cobrir a deficiência do salário tornavam-se insuficientes. Mês a mês aumentava o déficit criado entre o recebido e as despesas.

O empréstimo solicitado a um amigo; um dinheiro pego com um agiota que trabalha na garagem da empresa; e as economias de sua mãe, tomadas para ser devolvidas uma semana depois, não foram suficientes.

Dioselma, a sua mulher, a noite anterior, depois de deixar o turno, lhe tinha feito impossível o descanso necessário para a retomada do trabalho pela manha. As discussões e os desencontros, especialmente amorosos já levavam três dias. Ela exigia a compra de um novo vestido para o aniversario de sua irmã, um dia depois dessa sexta feira.

Sem dormir, Raimundo ao sair, já na porta da casa recebeu o ultimato:

- Raimundo eu quero comprar hoje esse vestido. Se não é assim eu e as crianças voltaremos para casa da minha mãe a manha! Não casei para viver pedindo esmola.

Na garagem da empresa os problemas surgiam como capim, a vida parecia despencar.

- A unidade 1200634 esta com problemas no disco de embreagem Raimundo – falou o mecânico.

- Isso já teria que ter sido arrumado ontem, faz dias que esta desse jeito – respondeu-lhe ao mecânico.

Saiu da garagem indignado. A raiva quase fez que brigara, mas conseguiu controlar-se. Mesmo assim retomou a linha.

Na parada um Fiat mal estacionado quase fez que batera. Não conseguia tirar da sua mente as ultimas palavras da Dioselma. A campainha, o barulho das portas ao abrir e fechar, a descompressão do freio, as buzinas dos carros parecia estourar a sua cabeça. Ao descer alguém falou alguma coisa para ele que não conseguiu entender.

Já na Almirante Barroso passou de vez, em duas oportunidades, deixando passageiros na parada. Aproximava-se a o entroncamento pela faixa do centro. Na pracinha do meio, a uns trinta metros, viu um jovem que ria jogando a cabeça para atras e fazendo sinais a uma jovem do outro lado da calçada. Sim pensá-lo subiu o meio fio e o atropelou.

Na delegacia da policia o oficial perguntou-lhe:

- Porquê o fez?

- Esse filho da mãe estava rindo de mim, de meus problemas.



__________________O_________LILLE /Abr/2004

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