domingo, 20 de setembro de 2009

CHUVA DA TARDE EM BELÉM






Estávamos no finzinho de janeiro. A falta do sol, ao qual estamos acostumados, foi trocada pela refrescante e manhosa chuva, de todos os dias, no fim da tarde. Assim é Belém e as suas características naturais.

Saí de casa rumo ao centro e o céu estava carregado mais não fiz caso. A chuva vem e passa logo – pensei, deixando o guarda-chuva de lado.

Na esquina de Maurice e Everdosa, na parada do ônibus, às 13 horas muita gente retorna ao trabalho porem, nesses dias, podia verse menos do normal, efeito das férias dos estudantes.

Sentei nas primeiras cadeiras da frente, dava para escolher. Quando passamos a 25 de Dezembro já estava cheio. Os primeiros pingos da chuva, vindo do sul, começaram a marcar presença no pára-brisa do veiculo. Do lado esquerdo os passageiros, como obedecendo a uma ordem imaginaria ou tal vez a um movimento sincronizado, fechavam os vidros das janelas. Quando chegamos a Almirante Barroso a chuva era um dilúvio. Não se enxergava nada para o lado de fora, pela água que caia e os vidros embasados. O vento aumentou fazendo-se quase impossível que, ao descer, pudesse encontrar um lugar para abrigo. Comecei a ficar nervoso, aproximava-se meu destino e o vento e a chuva aumentavam com uma violência inusitada. Dar aula, molhado, não era bom.

Quando me parei junto a porta para descer, junto de outros passageiros, sorri nervoso. O banho já era inevitável. O motorista teve a feliz idéia de parar justo na frente ao posto de gasolina Charmont II. na metade do quarteirão. Para ali corremos a abrigarmos. Os cinco ou seis metros percorridos foram suficientes para ficar totalmente molhados.

Tinham transcorrido não mais que vinte minutos daquele dilúvio e as ruas estavam totalmente alagadas. Na nossa frente, próximo a calçada, duas senhoras, como nos, acobertavam-se da água baixo o teto da gasolinera. Uma delas levou rapidamente as mãos ao rosto cobrindo-se, em atitude de susto ou mais que isso terror. Olhei para o lugar a onde se dirigia seu olhar. Uma enorme rata de mais de quarenta centímetros entre a cabeça e o rabo vinha nadando, quase em pe, levada pela correnteza formada entre a calçada e a rua. Mais atrás outra igual, e outra, e outra mais, mais uma, e a ultima. Pareciam clonadas, as seis. Todos os que ali estávamos olhávamos o desfile aquático dos roedores.

Quando chegaram em uma descida da calçada, feita para entrada de carros, onde se tinha formado um pequeno lago, as ratas subiram a calçada, fugindo da água para evitar afogar-se. Uma mulher estava defendendo-se da chuva e o vento por trás de uma coluna da iluminação publica. Justamente nesse momento decidiu que não era suficiente abrigo e saiu. A infeliz mulher deu de frente com os roedores... Seus olhos desorbitados, as mãos juntas no peito e um grito de terror. Depois começou a sapatear, histérica olhava para o céu e gritava, sem importar-lhe a água que entrava em sua boca. Os ratos pararam para olhar-la..., também surpresos, depois aterrorizados se lançaram a cruzar a rua sem importar-lhes a água nem os veículos que tentavam matar-los, sem êxito. Subiram a calçada e o que chefiava o grupo decidiu entrar num local de vendas de carros, que estava com a porta aberta. Segundos depois começaram a cair para afora mais de dez pessoas que ali estavam abrigando-se. As mulheres gritavam e os homens riam, um riso entre nervoso e divertido. Todos sem importar-lhes o vento, o a chuva. A questão era sair dos infelizes e assustados ratos que perderam a sua moradia inundada pela gostosa chuva de janeiro, no centro de Belém.



Lille/2005/belém

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